domingo, 16 de outubro de 2011

“AVE BRANCA QUE VOA DOS PÂNTANOS PARA O AZUL...”: AS ELITES E O PROJETO MODERNIZADOR DE ARACAJU NAS DÉCADAS DE 1910 A 1930

           Com a fundação de Aracaju, no governo Inácio Barbosa, em 1855, nascia a ideia de construir em Sergipe um núcleo urbano moderno, em função de um porto que atendesse às necessidades de escoamento da produção açucareira do vale do Cotinguiba. A “cidade de Inácio Barbosa”, todavia, enfrentou no seu início os mais diversos problemas, não conseguindo, até o final do século XIX.
Foi nas primeiras décadas deste século que Aracaju começou a corresponder à imagem idealizada pelos que a criaram. Impôs-se como principal centro urbanístico do Estado, superando a imagem da cidade inviável cheia de lagoas, dunas e pântanos onde proliferavam mosquitos causadoras de “febres”. Essa “nova fase” é retratada no interior do discurso modernizador  do Governo à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, na legislação, nos relatórios das fábricas de tecidos e da polícia e nos jornais.
Os jornais considerados oficiais, entre estes “O Estado de Sergipe” e “Correio de Aracaju”, a partir desses melhoramentos, procuraram divulgar a ideia de que Aracaju vivenciava uma era de modernização e acentuavam a importância desses melhoramentos para todos. Essa ideia de fase colossal para a cidade de Aracaju reapareceu várias vezes nas matérias dos jornais como parte do discurso de muitas autoridades que estavam à frente dessas melhorias. Inaugurações das praças públicas, aterros de lagoas, desmanche de morros, de equipamentos urbanos (energia elétrica, bondes etc.) e escolas foram notificadas pelos jornais como acontecimentos extraordinários que anunciavam a chegada do “progresso” em Aracaju.
Augusto Leite afirmava que as “transformações sociais” só ocorreriam mediante a audácia dos que acreditavam que era possível empreender mudanças, mesmo com todas as dificuldades do meio em que se vivia. Ele se expõe numa imagem de sergipano devotado e comprometido com uma era moderna para Sergipe, ou seja, sendo um representante da nova fase de progresso que acreditava começar a existir.
Dentre as cidades de Sergipe nas primeiras décadas deste século, Aracaju se destacava como sede político-administrativa e o maior centro comercial e industrial do Estado. Embora todas mantivessem seu comércio, suas indústrias mais ou menos rudimentares e seu sistema de serviços, em menores ou maiores proporções, nenhuma cidade se comparava à capital. As cidades do fundo estuário entraram em decadência, enquanto a capital centralizava cada vez mais o comércio e demais serviços, adquirindo paulatinamente maior expressividade.
Foi na primeira década deste século que as inovações urbanísticas foram aparecendo, destacando-se entre elas: o bonde de tração animal (a partir de 1901), a água encanada, a criação de empresa de carris urbanos (em 1908) e o cinema que começou em 1909. Tais melhoramentos provocaram, no decorrer das décadas de 1910 e 1920, o surgimento de um maior número de equipamentos e serviços urbanos.
A instalação da energia elétrica constituiu o primeiro equipamento urbano a contribuir para a nova feição da capital. Logo depois vieram os serviços de esgotos, aterros e drenagens de lagoas e pântanos, medidas de higienização e calçamento.
Foram instalados institutos científicos como o Instituto de Química e o “Parreiras Horta” com a importação de técnicos, profissionais ligados ao serviço de exame da água, além de terem sido feitos serviços de profilaxia e drenagem e intensivas visitas às habitações e aos lugares que poderiam servir de focos transmissores de doenças.
Esse intuito pode ser percebido nos Códigos de Posturas da época. O de 1910, por exemplo, demonstrava preocupação com o estabelecimento de normas higiênicas, segurança e embelezamento. Essa tendência ia se processando também em outras leis e decretos estaduais. Os Códigos de Posturas procuravam estabelecer um certo conceito de beleza para a cidade, impondo mais rigor nas construções das casas. Ruas tortas, casas de palha e taipa, calçamentos irregulares, inquietavam os apologistas de um futuro melhor para a cidade.
No interesse de construir a nova fisionomia da cidade, dando-lhe um ar habitável e higiênico, inúmeras desapropriações foram feitas.
 Pequenas casas de palha, pelo seu próprio aspecto rudimentar ou porque estavam afastadas do alinhamento exigido pelas normas urbanas foram abaixo. Ruas “irregulares”, as chamadas “teias de aranha” foram condenadas e cederam lugar às novas ruas e avenidas planejadas.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010

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