domingo, 13 de novembro de 2011

“USO DO PRIVADO NO PÚBLICO”: ORDEM PÚBLICA E CORONELISMO EM SERGIPE

           Os juízes de Direito em Sergipe, que exerciam suas funções nas comarcas localizadas em áreas limítrofes, relataram aos presidentes do Estado sergipano os graves problemas relativos ao seu exercício profissional. Sistematicamente, as autoridades tinham dúvidas sobre a aplicação da sentença judiciária aos bandidos, também porque estes, após perpetrarem crimes no território sergipano, afirmavam ter domicílio no Estado vizinho Um dos problemas cotidianos enfrentados pelos juízes e promotores públicos foram as pressões do chefe político local para prender ou soltar tanto pessoas envolvidas em conflitos do povoado quanto visitantes que chegavam à localidade.
            A explicação dos problemas no exercício das atividades judiciárias pode ser encontrada na perseguição política e na consequente falta de garantia de vida para os juízes de direito ou para os promotores públicos quando esses não eram coniventes com os interesses do chefe político local. Também as relações entre juízes e presidentes do Estado raramente oram boas. Muitos governantes estaduais se desentenderam com as autoridades judiciárias e se utilizaram, assim como os líderes políticos locais, de diversas estratégias para perseguir e atrapalhar as atividades desempenhadas pelos juízes ou promotores públicos. (DANTAS, 1930).
            Os problemas de ineficiência no funcionamento da lei nas comarcas não eram derivados somente da defesa de interesses pelas lideranças políticas. Cotidianamente, o desacato, a desobediência e a falta de respeito por parte de muitos funcionários aos juízes de direito comprometiam o trabalho da Justiça. Muitos juízes também perseguiram os governos estaduais. Boa parte deles utilizava-se de vários recursos para desafiar presidentes de Estado. Em 1901, o Presidente Olímpio Campos denunciou um Juiz de Direito por ter mandado requerer a prisão de um indivíduo que fora perdoado pelo Governo anterior. Para Campos, o Juiz não havia respeitado o indulto, não buscara informações nos órgãos competentes e nem seguira os procedimentos impostos pela formalidade das leis. Ele, segundo Campos, queria incentivar o confronto entre os poderes executivo e o judiciário.
            Além de conflitos com o Presidente do Estado, as autoridades judiciárias cometeram diversas irregularidades no andamento dos processos dos presos,ou, melhor dizendo, agiram de má fé no arrolamento de algumas sentenças. A omissão e o descaso com os processos dos presos estiveram sempre presentes no cotidiano das comarcas. Assim, presos sem culpa formada esperavam durante muito tempo, nas celas das penitenciárias, o seu julgamento. A esse respeito, o Presidente do Estado, Olímpio Campos, em Mensagem à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, declarou, em 1901, que “autoridades judiciárias e policiais sejam mais ativas e zelosas no cumprimento de seus deveres, não dando lugar a que estejam por meses e anos, sem culpa formada, indivíduos sobre quem pesam acusações de crime”. (CAMPOS, idem).
            Havia acúmulo de processos, abandono das comarcas onde exerciam sua função e muitos juízes concederam habeas corpus sem critérios e formalidades baseadas nas leis. As cadeias públicas também apresentaram problemas semelhantes. Também elas, como órgãos responsáveis pela manutenção da ordem pública, funcionaram na base das relações pessoais As cadeias públicas estaduais em Sergipe eram quatro. Elas estavam localizadas nos municípios de Laranjeiras, Estância, Vila Nova e Aracaju. Exceto a de Aracaju e a de Laranjeiras, construídas ou reformadas no início do século, as demais tinham problemas na sua estrutura física.
            Passados 14 anos, a situação de algumas cadeias públicas piorou e outras continuaram da mesma forma que se encontravam em 1905. A da capital e a de Laranjeiras, que haviam sofrido mudanças, permaneceram nas mesmas condições em termos de precariedade assim como as demais
do interior do Estado.
           A maioria das delegacias se encontrava praticamente na mesma situação das comarcas e das cadeias públicas. Da mesma forma que se indicava uma pessoa sem qualificação para administrar as prisões, os mesmos critérios políticos eram utilizados na escolha dos delegados. O cargo de delegado era disputado por pessoas próximas às lideranças políticas locais. O delegado era, particularmente, o amigo pessoal de quem estava no poder e vice-versa.
            Em 1930, o Presidente Manuel C. Dantas acreditava que a solução para a presença de leigos nas delegacias, colocados por interesses políticos, seria a regulamentação da profissão de delegado em Sergipe e a sua remuneração.

A POLÍCIA

            Apesar dos dados serem dispersos, é possível perceber, pelas mensagens dos presidentes do Estado e relatórios dos comandantes do corpo policial, os mesmos problemas na polícia. A maioria dos agentes policiais sergipanos não tinha a mínima capacidade no trato com a defesa pública no interior do Estado de Sergipe. Muitos não eram capazes de fazer diligências e não possuíam a disciplina e a educação necessárias que lhes levassem a obedecer à hierarquia da instituição e tratar razoavelmente a população. (MENEZES, 1903; DANTAS, 1930).
            A desorganização da polícia sergipana pode ser constatada pelos exemplos de comportamentos e vida desregrada que os soldados e oficiais levavam nas sedes dos municípios ou nos povoados. Os policiais viviam num verdadeiro ócio e os oficiais estavam sempre metidos em confusões e exibições de suas fardas. (PRATA, 1934:28)
            Os soldados também usaram o seu cargo para atender interesses diversos nas várias regiões em que estavam sediados. Muitos, quando enviados para fazer diligência em determinada localidade, abusavam da sua autoridade, promovendo desordens nas feiras e festas populares. Além de todos os problemas citados, o número de soldados responsáveis pela defesa da ordem pública em todo o território sergipano era insuficiente. Em especial, nas localidades do interior de Sergipe, havia um reduzido número de soldados.

OS GOVERNOS E A ORDEM PÚBLICA

            A maioria dos presidentes do Estado de Sergipe justificou o reduzido número de policiais para a defesa pública pela falta de recursos financeiros do Estado. Na verdade, nenhum Presidente do Estado de Sergipe promoveu uma reestruturação da polícia sergipana no período de 1889 a 1930. A capital sergipana era exceção, como vimos no texto que trata do projeto modernizador para Aracaju.
            Com o objetivo de enaltecer a sua administração, todos os presidentes do Estado afirmaram ter garantido a manutenção da ordem pública graças à eficácia da polícia e ao povo sergipano, pacato, dedicado ao trabalho e obediente às leis. As relações sociais de poder foram entraves no funcionamento das comarcas, delegacias, cadeias e na funcionalidade da polícia a serviço da ordem pública. A polícia funcionava, por exemplo, para interesse pessoal, para perseguir um opositor. Mas, infelizmente, não funcionava adequadamente na construção de uma ordem pública para a sociedade como um todo.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Uso do privado no público”: ordem pública e coronelismo em Sergipe (1889-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

domingo, 6 de novembro de 2011

“PARTE DO OUTRO LADO DA MODERNIZAÇÃO...”: ARACAJU E OS HOMENS POBRES NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

          Desde a sua fundação, em 1855, Aracaju sempre foi uma cidade de homens e mulheres pobres que se deslocaram de várias partes de Sergipe. Aqui eles ergueram suas casas nos morros de areia, nos mangues e lagoas. Entretanto, é no início do século XX que essa migração se intensifica. “Na medida em que a cidade de Aracaju passava por um processo incipiente de urbanização havia uma constante imigração de homens pobres vindos do campo Como a população pobre não possuía recurso para atender as exigências do ‘código de posturas municipal”, passava a construir seus casebres no lado norte da cidade, além do Camborge, no início da Estrada Nova (hoje Av. João Ribeiro), entre os manques do Olaria. A estrutura interna de Aracaju caracterizava-se pela existência de dois núcleos separados do centro da cidade. O “bairro industrial” ao norte, núcleo florescente onde se localizavam as duas fábricas de tecido da capital, e a colina de Santo Antônio, a noroeste (RIBEIRO,1934:46).
          
 Arruamentos em Aracaju, 1865. Fonte: http://aracajuantigga.blogspot.com/
       
          A valorização da área central e o estabelecimento das dificuldades de acesso desta área aos homens pobres aceleraram a ordenação de uma fisionomia para a cidade de acordo com os interesses dos mais privilegiados. O espaço urbano, neste sentido, começava a potencializar as contradições entre os vários segmentos sociais (SOUSA,1991:9) Os aluguéis das casas recebiam constantes aumentados nos seus valores, forçando a “expulsão” direta dos moradores para outras áreas distantes do núcleo central da cidade. O jornal “Correio de Aracaju”, em 1919 registrou, algumas vezes, a problemática da especulação dos terrenos e dos aluguéis das casas.
            Essa problemática assumiu proporções maiores na década de 1920 como aumento populacional em Aracaju. No período, o aumento do número de indivíduos que chegavam a Aracaju era sensível. A vinda de homens pobres para Aracaju e a sua fixação nas áreas mais afastadas do núcleo central, preocupava os idealizadores do discurso modernizador. Governo, higienistas, intelectuais e jornalistas, que faziam parte de um mesmo “grupo” de idealizadores do discurso modernizador, sentiam a necessidade de ampliação no processo de ocupação da cidade, interferindo nas novas áreas ocupadas por indivíduos pobres que chegavam, principalmente, do interior de Sergipe. Desejavam eles enquadrar determinadas áreas de habitações pobres dentro do modelo de núcleo urbano projetado, ou seja, seguir o modelo já idealizado e que na prática já surtia efeito na região chamada de “quadrado de Pirro”. Esses idealizadores “olhavam” a cidade numa dimensão maior e projetavam imagens de uma certa “harmonia” para toda a cidade. Para concretização de tal intuito, aperfeiçoaram-se os Códigos de Posturas, criaram-se novas leis e decretos de “integração” das áreas suburbanas.
 Construíra-se, assim, um projeto de aterros, desapropriações de casas para a formação dos novos traçados de avenidas e ruas dentro dos padrões que processavam no centro da cidade. Essas medidas começaram ser postas em prática na década de 1920. Foi nesse período que o “Santo Antônio” e o “bairro Industrial” iniciaram mudanças na sua estrutura. O alinhamento das ruas antigas e novas começou a direcionar como deveria ser seu crescimento. A avenida “Simeão Sobral”, hoje localiza no bairro “Santo Antônio”, fora aberta, alinhando as ruas adjacentes, definindo o surgimento de outras. No penúltimo ano da década de 1920, inúmeras desapropriações de casas populares também se processaram no Aribé (hoje Siqueira Campos)em decorrência do prolongamento da viação, à continuação da linha de bondes da empresa elétrica de Aracaju. Ruas como Vila Nova (hoje Neópolis) e avenida Goiás, sofreram profundas mudanças no seu traçado.
            O Aribé, desde 1923, tornara-se uma das regiões mais procuradas pelos indivíduos pobres. Possuindo sítios e áreas pantanosas, esta região acolheu famílias de emigrantes do interior do Estado, já que pela falta de espaços mais acessíveis no “Santo Antônio” ou “Industrial” se aventuraram a ocupar essas áreas totalmente não saneadas e difíceis para moradia Área suburbana que atraía muitos pobres, o Aribé passou a merecer cuidado por parte dos governante e dos donos de empresa. Novas ruas deveriam ser abertas e as existentes deveriam ligar o lugar ao quadrado de Pirro (Perímetro urbano da cidade de Aracaju). A “integração” dessas áreas suburbanas desejava, sobretudo, a submissão em grau maior do homem pobre. A definição objetiva do lugar de residência do pobre possibilitava controle sobre ele. Era um fenômeno que tinha sua razão de ser na fase de transição do país pós-abolição da escravatura. E um período de consolidação do trabalho livre onde as cidades passaram a sofrer mudanças nas suas estruturas atraindo uma mão de obra livre, despossuída de bens.
            Em Sergipe, isto igualmente acontecia. Homens pobres migraram para Aracaju, influenciados pelas mudanças que se processavam e, respectivamente, por questões emergenciais que sofriam o campo. Aracaju assumia, pelos anos 1920, a posição de maior centro industrial de Sergipe. Possuía duas fábricas de tecidos, inclusive que eram as maiores dentre as 8 existentes no Estado. Foram estas fábricas têxteis a opção possível de emprego e sobrevivência de uma população pobre que chegava a Aracaju. É, sobretudo, diante dessa importância significativa das indústrias têxteis que os donos das fábricas procuraram interferir no processo de idealização da “nova” fase que acreditavam começar a existir em Aracaju. Essa participação pode ser constatada nos relatórios das fábricas.
            A “Sergipe Industrial”, por exemplo, procurou construir vila operária perto da fábrica, contribuiu com a instalação do hospital Cirurgia, para a construção de uma escola pública e com abertura de novas ruas no bairro “Industrial”. Entre estas contribuições destacou-se a instalação de um parque de diversões em suas dependências.  Os donos das fábricas procuraram formar um “espaço de trabalho” onde a fábrica, a casa do gerente, a moradia do operário, a escola, o armazém e o parque, compreendessem uma “estrutura fechada” em si mesma, onde o trabalhador deveria ser submetido às exigências do capital. A construção do parque de lazer tornava-se o exemplo mais significativo da tentativa de imprimir um estreito elo entre a fábrica e a residência do operário. O parque fazia parte dessa estrutura onde tudo girava em torno da fábrica na obtenção de um maior controle sobre o trabalhador para que ocorresse uma maior produtividade. (SOUSA,Op. Cit.14).


 Fábrica Sergipe Industrial. Fonte: http://www.aracajuantigga.blogspot.com/

            Em torno da “integração” havia a justificativa da necessidade do desenvolvimento, da diminuição da “miséria”, fome e degradação. Estabelecer o domínio sobre os espaços dos trabalhadores, criando um espaço de produtividade, significava trazer benefícios a todos: ao desempregado, aos cofres públicos e à sociedade. A “integração”, por sua vez, não modificou em nada as condições de vida dos trabalhadores. Os operários têxteis, por exemplo, enfrentavam inúmeras dificuldades de moradia, salários, saúde e alimentação que contradiziam a ideia de prosperidade e a melhoria de vida que a fábrica prometia a quem nela trabalhasse. Como os outros trabalhadores (ferroviários, homens de docas, carroceiros, pedreiros, carpinas, sapateiros etc.), os operários têxteis presenciavam constantemente no seu cotidiano a rejeição e negação dos benefícios executados na cidade, nas fábricas.
            A visualização de que os problemas dos operários têxteis eram praticamente os mesmos do restante dos trabalhadores, os homens pobres, ampliam os limites possíveis de compreensão sobre o operário têxtil. A maioria dos trabalhadores se alimentava mal. O reforço alimentar era encontrado nos mangues e em pequenas plantações em terrenos abandonados. e nos fundos de quintais. Havia, também, o artesanato caseiro, os doces que, vendidos nas portas das fábricas, na feira ou nas ruas, serviam para comprar o pão ou produtos alimentares. Os vendedores desses produtos eram geralmente pessoas da família dos operários que ainda não trabalhavam, sobretudo crianças, na tentativa de ajudar no orçamento da família.
            Os problemas de saúde eram constantes. Os altos índices de mortalidade infantil eram o registro mais claro da precariedade da saúde existente entre os indivíduos pobres. A rede de esgotos existente até o final da década de 1920, mal abrangia a parte do perímetro urbano da cidade. A falta de prolongamento dessa rede de esgotos contribuía para que, em épocas de chuvas, a cidade ficasse contaminada por focos de doenças as mais diversas. Era justamente nas casas dos pobres que as doenças tornavam-se mais corriqueiras.
            O tratamento dessa problemática era mais assistencialista. Foram fundadas associações beneficentes, e campanhas etc. Esse caráter assistencialista continuou ao longo da década de 1920, embora tenha diminuído à medida que critérios científicos e técnicos foram invocados. Na medida em que esse conhecimento mais objetivo substituía o tratamento assistencialista, foi sendo retirada, progressivamente, do trabalhador a autodeterminação do seu modo de vida. O homem pobre passou a receber “visitas” constantes em suas residência dos técnicos que lhe imprimiam informações em torno da higienização da casa e do corpo. Era preciso, nesse sentido, criar novos hábitos e determinados cuidados relativos à alimentação.
            Os critérios científicos, ou técnicos, não escondiam a explicação da falta da educação, desleixo e promiscuidade como fatores importantes para a problemática de saúde. A problemática em torno da alimentação, saúde e moradia dos homens pobres, agravou-se com o aumento populacional ocorrido nessas décadas de 10 e 20. Intensificou-se a concorrência no interior de um mercado de trabalho que não era muito expressivo. Havia, sem sombra de dúvida, um contingente significativo de “desocupados”, refletindo no barateamento da mão de obra. Os operários têxteis sentiam bem de perto essa situação. Eles constituíam uma mão de obra das mais baratas do país. Finalmente, um outro problema que os operários enfrentavam era o trajeto de suas casas para as fábricas. Os que moravam longe das fábricas enfrentavam diariamente áreas não saneadas, de difícil acesso, para chegarem ao trabalho. Para que não chegassem atrasados por causa das multas, ou para que não perdessem o “quarto” (turno da fábrica) viam-se na contingência de sair de casa alta madrugada, levando consigo o seu almoço. Muitas vezes esse trajeto era feito enfrentando grandes temporais.
            Diante desse quadro de penúria dos operarias têxteis e demais indivíduos pobres, pode-se concluir que: toda a modernização por que passava, especificamente, Aracaju, exibia uma face contraditória. Se os melhoramentos materiais e demais benefícios realizados atingiam positivamente a uma faixada população, a outra - a mais numerosa - ficava à margem dos benefícios e era submetida a controles que colocavam suas vidas a serviço do capital.

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Parte do outro lado da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

domingo, 30 de outubro de 2011

“UM MISTO DE ACANHAMENTO E AUDÁCIA...”: REFLEXÕES EM TORNO DA IDENTIDADE SERGIPANA (1910-1930)

O ilustre historiador, Silvério Leite Fontes defendeu a ideia de que não podemos pensar a identidade do sergipano sem compreender o seu complexo de “inferioridade” e os mecanismos de compensação desse sentimento. Diz ele que desde os tempos coloniais há a consciência da inferioridade de Sergipe em relação à Bahia e diante do todo brasileiro. Segundo Fontes, “a insegurança psicológica do sergipano exige que seus nomes maiores sejam reconhecidos pelos outros, para, somente assim, calarem fundo na valorização própria”. O autor quer dizer que os nomes dos sergipanos que se projetaram fora do Estado ficam na memória coletiva sergipana.

                                                       Silvério Leite Fontes. Fonte: Google

Tobias Barreto, por exemplo, é um nome que evoca no sergipano uma representação da sergipanidade. É um individuo que aglutina a identidade de uma coletividade. Tanto no passado quanto nos dias atuais, a identidade sergipana se constrói a partir das potencialidades das figuras dos homens que se destacam no campo da intelectualidade, da arte e da política. Vale ressaltar que essa escolha do ser sergipano é compreendida como mecanismo de compensação do sentimento de inferioridade que existe no sergipano desde os tempos coloniais.
Acreditamos que essa identidade a que ele se refere fazia parte da elite sergipana, principalmente de um grupo seleto de intelectuais preocupados com a construção da identidade sergipana. Os anos de 1870 a 1900 foram os primeiros tempos onde uma elite intelectual começou a elaborar textos em Sergipe, sobre Sergipe e para Sergipe. O uso da biografia dos considerados ilustres sergipano por parte da elite intelectual começou no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Dentre as instituições fundadas nas décadas de 1910 e 1920 em Sergipe, nenhuma se comparou ao Instituto quanto a ser um espaço onde se pensava quem era o sergipano, qual o seu território e, sobretudo, como seria o futuro de Sergipe. (SOUSA,1993: 32-33).
                       Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Fonte: Google

A elite nessa instituição contribuía para forjar uma identidade para o sergipano como parte de mecanismos sutis da nova ordem social que Aracaju começava espreitar. Fundado em 1912 por Florentino Teles de Menezes , a referida instituição promovia grandes debates sobre questões nacionais e locais, através de artigos de sua revista, nas sessões com os associados e, principalmente, nas palestras promovidas. Boa parte dos debates procurava trilhar uma perspectiva de exaltar os “grandes fatos e vultos” do passado e do presente e a busca das “origens” de Sergipe, principalmente no que tange aos seus limites com a Bahia. É no Instituto que se dá o prosseguimento do debate sobre as divisas territoriais de Sergipe com Alagoas e principalmente com a Bahia.
Os intelectuais alargaram o debate sobre o território sergipano, reforçando a tese de que a Bahia se apossou de boa parte de terras de Sergipe. Os que se destacaram no passado no campo político, artístico e intelectual são relembrados como inspiradores de uma nova era para Sergipe. São vistos como modelos de homens que venceram os problemas físicos e sociais no Estado. Em sua maioria, os que se destacavam no imaginário da intelectualidade do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe eram relembrados como homens que, vencendo as dificuldades na sua terra natal, conseguiram se destacar a nível nacional ou internacional. Entre estes sergipanos estavam Tobias Barreto, Horácio Hora, Fausto Cardoso. Suas biografias eram elaboradas e publicadas na revista do Instituto, nos jornais “oficiais” e eram motivos de palestras. Além do mais, seus nomes eram emprestados a escolas e, ainda em homenagem a eles, criavam-se monumentos.
Além dos sergipanos “importantes”, outros nomes que não eram do próprio Estado foram notificados como também “grandiosos colaboradores” do Estado. Inácio Barbosa é um destes nomes. Nas comemorações dos cem anos da Independência de Sergipe da Bahia, essa elite intelectual passou a produzir muitos trabalhos sobre a História de Sergipe, inclusive criando espaço de destaque para a história de Aracaju, especialmente a transferência da capital.
Reforça-se a ideia de que o ato da transferência da capital foi um impulso grandioso, um projeto que possuía visão mais larga do futuro. Inácio Barbosa é resgatado como herói. Fazem dele um dos precursores do voluntarismo e como um dos melhores representantes da alma sergipana. Reconhece-se nele o jeito audacioso como se fosse um sergipano que enfrentou as dificuldades do meio físico e social. Sua imagem era trabalhada para servir de modelo aos que acreditavam numa nova fase para Aracaju.
Havia um certo desejo por parte da intelectualidade sergipana de resgatar exemplos de gente que, no passado, se destacou também no campo intelectual. Neste sentido, Tobias Barreto é resgatado como um exemplo a ser transmitido às gerações. Na construção de sua biografia, ele aparece como uma pessoa pobre, talentosa e audaciosa.
O estudo da relação entre homem e natureza tornou-se uma outra questão que a intelectualidade discutia no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
O pensamento de Sampaio, neste sentido, não se distanciava das ideias discutidas no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Forjando uma concepção de História para a sociedade, muitos que frequentavam esta instituição excluíram a ação histórica dos diferentes segmentos sociais que nela atuaram, as experiências e os projetos diferenciados, tornando sujeitos históricos aqueles que invariável e “naturalmente” conduziram os destinos da nação e da comunidade. O saber da história de Sergipe era voltado para o culto ao herói e ao condicionamento do amor, à obediência e ao respeito às instituições sociais.

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Um misto de acanhamento e audácia...”: reflexões em torno da identidade sergipana (1910-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010. 

domingo, 23 de outubro de 2011

As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do Município de Sorocaba

Texto: Arnaldo Pinto Júnior


Produzir conhecimento em sala de aula não é tarefa fácil, principalmente quando nos deparamos com inúmeras amarras didáticas, dentre elas a burocratização do sistema educacional brasileiro, aliado a paradigmas impostos pelas elites, na tentativa de implantação da cultura europeia.
O autor vem de forma clara e objetiva criticar esse modelo e sugerir alternativas, discutindo as potencialidades da história local tendo como elemento motivador de estudos, a pesquisa. Para ele, no trabalho de pesquisa ou de elaboração de documentos históricos, o aluno, fazendo análises dessa documentação tem condições de reconhecer, valorizar e problematizar suas raízes familiares, sociais, politicas, culturais, em seu tempo e espaço, compreendendo as relações entre o presente e o passado, além de destruir visões homogeneizadas.
Pinto Junior destaca o aproveitamento das “experiências vividas”, como fundamental para a recuperação das memórias locais, problematizando o passado, questionando os documentos, colocando à prova o conjunto de informações de origem institucional, jornalística, publicitaria, politica sobre a indústria na cidade, os alunos poderiam confronta-las com as suscitadas  na pesquisa de campo, procurando levantar as memórias de pessoas que vivem na cidade, cruzando as evidências e produzindo  novos saberes.
O aluno seria produtor  de conhecimento histórico, valorizando suas identidades e resgatando no passado “experiências vividas”, ampliando suas reflexões históricas e recuperando suas memorias coletivas, valorizando os sujeitos históricos e favorecendo o processo ensino e aprendizagem dentro  e fora da escola.

domingo, 16 de outubro de 2011

“AVE BRANCA QUE VOA DOS PÂNTANOS PARA O AZUL...”: AS ELITES E O PROJETO MODERNIZADOR DE ARACAJU NAS DÉCADAS DE 1910 A 1930

           Com a fundação de Aracaju, no governo Inácio Barbosa, em 1855, nascia a ideia de construir em Sergipe um núcleo urbano moderno, em função de um porto que atendesse às necessidades de escoamento da produção açucareira do vale do Cotinguiba. A “cidade de Inácio Barbosa”, todavia, enfrentou no seu início os mais diversos problemas, não conseguindo, até o final do século XIX.
Foi nas primeiras décadas deste século que Aracaju começou a corresponder à imagem idealizada pelos que a criaram. Impôs-se como principal centro urbanístico do Estado, superando a imagem da cidade inviável cheia de lagoas, dunas e pântanos onde proliferavam mosquitos causadoras de “febres”. Essa “nova fase” é retratada no interior do discurso modernizador  do Governo à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, na legislação, nos relatórios das fábricas de tecidos e da polícia e nos jornais.
Os jornais considerados oficiais, entre estes “O Estado de Sergipe” e “Correio de Aracaju”, a partir desses melhoramentos, procuraram divulgar a ideia de que Aracaju vivenciava uma era de modernização e acentuavam a importância desses melhoramentos para todos. Essa ideia de fase colossal para a cidade de Aracaju reapareceu várias vezes nas matérias dos jornais como parte do discurso de muitas autoridades que estavam à frente dessas melhorias. Inaugurações das praças públicas, aterros de lagoas, desmanche de morros, de equipamentos urbanos (energia elétrica, bondes etc.) e escolas foram notificadas pelos jornais como acontecimentos extraordinários que anunciavam a chegada do “progresso” em Aracaju.
Augusto Leite afirmava que as “transformações sociais” só ocorreriam mediante a audácia dos que acreditavam que era possível empreender mudanças, mesmo com todas as dificuldades do meio em que se vivia. Ele se expõe numa imagem de sergipano devotado e comprometido com uma era moderna para Sergipe, ou seja, sendo um representante da nova fase de progresso que acreditava começar a existir.
Dentre as cidades de Sergipe nas primeiras décadas deste século, Aracaju se destacava como sede político-administrativa e o maior centro comercial e industrial do Estado. Embora todas mantivessem seu comércio, suas indústrias mais ou menos rudimentares e seu sistema de serviços, em menores ou maiores proporções, nenhuma cidade se comparava à capital. As cidades do fundo estuário entraram em decadência, enquanto a capital centralizava cada vez mais o comércio e demais serviços, adquirindo paulatinamente maior expressividade.
Foi na primeira década deste século que as inovações urbanísticas foram aparecendo, destacando-se entre elas: o bonde de tração animal (a partir de 1901), a água encanada, a criação de empresa de carris urbanos (em 1908) e o cinema que começou em 1909. Tais melhoramentos provocaram, no decorrer das décadas de 1910 e 1920, o surgimento de um maior número de equipamentos e serviços urbanos.
A instalação da energia elétrica constituiu o primeiro equipamento urbano a contribuir para a nova feição da capital. Logo depois vieram os serviços de esgotos, aterros e drenagens de lagoas e pântanos, medidas de higienização e calçamento.
Foram instalados institutos científicos como o Instituto de Química e o “Parreiras Horta” com a importação de técnicos, profissionais ligados ao serviço de exame da água, além de terem sido feitos serviços de profilaxia e drenagem e intensivas visitas às habitações e aos lugares que poderiam servir de focos transmissores de doenças.
Esse intuito pode ser percebido nos Códigos de Posturas da época. O de 1910, por exemplo, demonstrava preocupação com o estabelecimento de normas higiênicas, segurança e embelezamento. Essa tendência ia se processando também em outras leis e decretos estaduais. Os Códigos de Posturas procuravam estabelecer um certo conceito de beleza para a cidade, impondo mais rigor nas construções das casas. Ruas tortas, casas de palha e taipa, calçamentos irregulares, inquietavam os apologistas de um futuro melhor para a cidade.
No interesse de construir a nova fisionomia da cidade, dando-lhe um ar habitável e higiênico, inúmeras desapropriações foram feitas.
 Pequenas casas de palha, pelo seu próprio aspecto rudimentar ou porque estavam afastadas do alinhamento exigido pelas normas urbanas foram abaixo. Ruas “irregulares”, as chamadas “teias de aranha” foram condenadas e cederam lugar às novas ruas e avenidas planejadas.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010

Recriação 3D do Castelo de Garcia d’Ávila














Recriação 3D do Castelo de Garcia d’Ávila

A Casa da Torre de Garcia d'Ávila localiza-se no atual município de Mata de São João, no litoral norte da Bahia. Erguida sobre uma elevação na atual Praia do Forte, no litoral de Tatuapara, foi originalmente denominada por seu proprietário como Torre Singela de São Pedro de Rates, embora tenha ficado mais conhecida como Castelo de Garcia d'Ávila, Torre de Garcia d'Ávila, Forte de Garcia d'Ávila ou Casa da Torre.
Origens
A Casa da Torre tem como suas origens Diogo Álvares Caramuru e sua mulher Catarina Álvares Caramuru (Catarina Paraguaçu), uma tupinambá batizada na França com o nome de Katherine du Brézil - primeiro casal cristão no Brasil.
Sua descendência, através de Diogo Álvares Dias, filho de Genebra Álvares e Vicente Dias, natural de Beja, entrelaçou-se, não só na progênie (Isabel de Ávila) de Garcia D'Avila com a índia Francisca Rodrigues, como na geração de Jerônimo de Albuquerque com a filha da aldeia de Olinda, Muira-Ubi - Maria do Espírito-Santo Arcoverde. Vinculou-se, mais tarde, com os descendentes de Domingos Pires de Carvalho, casado com Maria da Silva; com a geração de Felipe Cavalcanti casado com Catarina de Albuquerque e com a descendência do casal José Pires de Carvalho - Tereza Vasconcellos Cavalcanti, de Albuquerque Deus-Dará, formando o arcabouço da aristocracia do Recôncavo Baiano.
Foi o embrião de um grande morgado no estilo feudal que se iniciou na Capitania da Bahia, no Brasil, ainda no século XVI e que, durante duzentos e cinqüenta anos, só fez se expandir ao longo das gerações dos senhores da Casa da Torre pela quase totalidade do Nordeste brasileiro. Representou grande poder militar no período colonial, ajuda sem a qual o Nordeste do Brasil possivelmente teria sido perdido para a França ou Holanda. De 1798 em diante, esteve envolvido nas lutas pela Independência do Brasil de Portugal e teve muitos de seus membros agraciados com títulos de nobreza por Dom Pedro I e Dom Pedro II.
Além de importantíssima no desbravamento do Brasil e na formação do território nacional, a Casa da Torre foi pioneira na pecuária brasileira, corroborou com a expulsão dos jesuítas do Brasil, participou na corrida pelo El Dorado que culminou nas descobertas das minas em Minas Gerais e teve entre seus membros adeptos dos ideais libertários da Revolução Francesa.
A Casa e a Torre
Constituía-se em uma espécie de mansão senhorial, ainda ao estilo manuelino em uso por Portugal nas suas possessões ultramarinas no início do século XVI, erguida por Garcia d'Ávila a partir de 1551 para sede dos seus domínios, cumprindo o Regimento passado pelo rei D. João III (1521-1557). GARRIDO (1940) data a sua construção entre 1563 e 1609, referindo a sua descrição em Gabriel Soares de Sousa (Tratado Descritivo do Brasil em 1587), como um complexo composto "(...) de moradias e defensas, capela e um baluarte vigilante onde ardiam, em circunstâncias especiais, fogos sinaleiros." (op. cit., p. 83). Está representada por João Teixeira Albernaz, o velho isolada sobre um montículo, como uma pequena torre ameada, com três pavimentos marcados por linhas de seteiras ("Bahia de Todos os Santos", 1612. Livro que dá Razão do Estado do Brazil, c. 1616. Biblioteca Pública Municipal do Porto).
Em alvenaria de pedra e cal, tinha a função de vigiar o sertão por um lado, resistindo aos ataques dos indígenas revoltados, e o mar pelo outro, resistindo aos corsários que então procediam razias no litoral.
Invasões Holandesas do Brasil e expansão
No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654), o seu neto, Francisco Dias de Ávila Caramuru (c. 1621-1645), auxiliou na defesa contra os neerlandeses, fornecendo homens e víveres: a Casa foi utilizada como refúgio temporário por Giovanni di San Felice, conde de Bagnoli, que assumiu o comando das forças portuguesas após o desastre na batalha de Mata Redonda (Janeiro de 1636) (GARRIDO, 1940:83). Dos domínios da Casa da Torre partiram as primeiras bandeiras sertanistas que introduziram a pecuária no Nordeste do Brasil: Francisco Dias de Ávila II (c. 1646-1694), na segunda metade do século XVII, após dominar os índios Cariris, ampliou as fronteiras deste latifúndio familiar até aos sertões de Pernambuco.
No século seguinte, o seu sucessor, Garcia de Ávila Pereira, atendeu solicitação do Governador-Geral D. Rodrigo da Costa (1702-1705), para substituir o antigo Forte da Praia, então desaparecido, e fez construir às próprias expensas o Forte de Tatuapara, em alvenaria de pedra e cal (Carta a Garcia d'Avila (3º) em 23 de Agosto de 1704. in: Anais do Arquivo Público da Bahia (Vol. VI), p. 157-158. Documentos Históricos (Vol. XL), p. 180. apud: CALMON, 1958:150), hoje por sua vez desaparecido. Este morgado comandava, na ocasião, um Regimento de Auxiliares composto por três Companhias, com a função de guarnecer a costa entre o rio Real e o rio Vermelho (CALMON, 1958:130). De acordo com GARRIDO (1940), a sua artilharia teria sido completada em torno de 1710-1711 (op. cit., p. 83). Com a morte de Garcia de Ávila Pereira de Aragão em 1805, na ausência de herdeiros o morgadio da Torre passou para os Pires de Carvalho e Albuquerque (SOUSA, 1983:111).
A Guerra da Independência
No século XIX, durante a Guerra da independência do Brasil (1822-1823), serviu de base ao Exército Libertador de Cachoeira (1823), fornecendo destacamentos de Cariris armados com flechas e bordunas, tendo o Império recompensado os seus morgados pelos importantes serviços prestados como abaixo:
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Visconde de Pirajá;
Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Barão de Jaguaripe; e
Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Visconde da Torre de Garcia d'Ávila.
Com o seu recursos exauridos após a Guerra, e a extinção dos morgadios no Brasil a partir de 1835, a Casa da Torre foi progressivamente abandonada, transformando-se em ruínas.
Do século XX aos nossos dias
No século XX foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1938. Na década de 1980 o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) elaborou um projeto de restauração encaminhado à 5ª Diretoria Regional da SPHAN/Pró-Memória. O imóvel, em mãos da iniciativa privada, originou a Fundação Garcia d'Ávila, com vistas a proteger a edificação tombada, restaurando-a e transformando-a em Centro Cultural e Museu Histórico.

domingo, 18 de setembro de 2011

A produção acucareira na colônia sergipana

Como bem foi discutido em sala de aula a produção de açúcar em Sergipe está vinculada a fatos que aconteceram fora Brasil, a exemplo disso, foi o aumento do consumo do açúcar no café, cacau e chá, no início do século XIX. A desorganização da produção açucareira em regiões tradicionalmente cultivadas, também favoreceu a produção açucareira na colônia sergipana. A região da Cotinguiba tinha um solo bastante fértil e propício ao cultivo da cana-de-açúcar. Influenciada também pelo clima da região, pela facilidade dos transportes de navegações em seu rios e afluentes, a produção canavieira em Sergipe se desenvolveu, crescendo significativamente o número de seus engenhos, gerando um grande crescimento econômico para a região.

domingo, 4 de setembro de 2011

São Cristóvão vista do céu

Centro Histórico da cidade de São Cristóvão


                           Foto: Márcio Dantas

Em 1657, os franciscanos chegaram à cidade e proporcionaram a São Cristóvão o mais expressivo Conjunto arquitetônico remanescente da cidade - a Praça São Francisco. Os limites da praça são definidos pela Igreja, Convento de São Francisco e a Capela da Ordem Terceira (hoje Museu de Arte Sacra), que datam de 1693, e pela Santa Casa e Igreja de Misericórdia, o Palácio Provincial e o casario antigo. Edificada no período em que o Brasil esteve sob duas coroas, a praça guarda características que a tornam singular, única no processo de conquista e formação do território brasileiro.
http://www.infonet.com.br/cultura/ler.asp?id=91769

A importância dos núcleos de povoamento na expansão da colonização sergipana

Ao estudarmos o período colonial da Província Sergipana, notamos que a historiografia clássica, diferenciava a colonização da América portuguesa da espanhola. Historiadores brasileiros afirmam que no domínio espanhol a vida urbana era intensa e no português, vivia-se sob um total “desleixo”, como percebeu Sergio Buarque de Holanda, em “O Semeador e o Ladrilhador”, revelando o descuido dos portugueses pelos núcleos de povoamento na América portuguesa. A historiografia clássica também nos revela que os núcleos de povoamento foram essenciais para expandir a cristandade no interior do Brasil, segundo Raminelli a força simbólica da cidade colonial era um dos esteios da dominação portuguesa. As Igrejas, sedes paroquiais, conventos, cruzeiros e os espaços reservados na frente das igrejas, ocupavam enormes áreas e se apresentavam como visíveis de longas distâncias. “Eram peças importantes na encenação promovida pela Igreja, pois reafirmava diariamente o contato entre o sagrado e os homens”. (1992:172).

Sergipe D'el-Rei, por Gregório de Matos

Descrição da Cidade de Sergipe D'el-Rei

Três dúzias de casebres remendados,
Seis becos, de mentrastos entupidos,
Quinze soldados, rotos e despidos,
Doze porcos na praça bem criados.

Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados.

As damas com sapatos de baeta,
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de chita, cinta de raqueta.

O feijão, que só faz ventosidade
Farinha de pipoca, pão que greta,
De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade.

Gregório de Mattos

domingo, 28 de agosto de 2011

Olá ilustres e queridos colegas de curso, será um prazer compartilhar com vcs nesse grupo, não só conhecimentos sobre História de Sergipe, como também informações diversas sobre a História de tudo, do mundo, do Brasil, do cotidiano, da nossa vida... Enfim que possamos nos conhecer melhor, fazer novas amizades, solidificar laços já existentes, sobretudo saber mais sobre a nossa cultura e suas diversas formas de manifestações, nossas raízes, matizes e identidades, desconstruir alguns conceitos e preconceitos, valorizar costumes e rituais, reconhecer no outro nós mesmos... E pra começar minha apresentação: Minha terra é SERGIPE! Sou Aracajuana da gema, da clara, da casca do ovo e do aviário inteiro, amo minha terra, sempre a amei, amo minha cultura, seja ela representada pelos folguedos folclóricos de Larajeiras , São Cristóvão e Japaratuda, seja pelo costume de comer caranguejo , de beber suco de mangaba, de xingar Cabrunco, de passear cedinho da Ponte do Imperador (que não é bem uma ponte, mas ai de algum forasteiro que “Mangue” disso p eu virar um siri na lata rsssssssss)... até o mercado Tales Ferraz, comprar amendoim no antigo terminal hidroviário e vê o Zé Peixe indo comprar suas frutinhas no mercado, de olhar pro rio Sergipe e ter vontade de aprender a nadar, da saudade que eu tenho de quando era criança quando atravessava o rio de tototó com meu tio e minhas irmãs... essa lembrança é muito marcante em minha vida, lembro até da cor meu vestido caça: era azul... minha mãe nos empanturrava de talco e alfazema, esse cheiro me lembra tudo isso até hj...meu tio adorava vir do interior da Bahia uma vez por ano e fazer esse passeio com a gente... simples, mas perfeito ao menos pra mim e minhas irmãs, até hj lembramos disso e compartilhamos emoções!!! Tenho muitas lembranças da minha infância, do medo que tinha do papa figo, da loira do Augusto Franco... até lobisomem e mula sem cabeça tinha por aqui naquela época minha gente... rssssssssss Prezo por muitas coisas na vida, essencialmente os valores familiares, a companhia de um bom amigo, adoro dar risadas, gargalhadas, adoro gente, que goste ou não de conversar, puxo papo até com pedra, mas também curto minha individualidade, minhas excentricidades, gosto muito de ficar em casa sozinha, adoro o silêncio e a tranquilidade da noite... Amo música, literatura, arte e poesia. Sou formada em Ciências Contábeis pela UFS, mas me especializei na escola da vida em contar História, sempre gostei da disciplina e hj mais madura e centrada, retornei a universidade. Vamos conversando no decorrer do período. Ah e uma sugestão: Que tal um passeio pelo rio Sergipe??? Abraços